JEITINHO BRASILEIRO: O SERIAL KILLER DE NEGÓCIOS NO BRASIL
O famoso jeitinho brasileiro, muitas vezes visto como criatividade ou esperteza, também carrega um lado obscuro: o hábito de buscar vantagens a qualquer custo, mesmo que isso prejudique pessoas, empresas e o próprio país. Essa mentalidade, que normaliza atalhos e práticas antiéticas, mina a confiança, destrói relacionamentos comerciais e se torna um verdadeiro “serial killer” de negócios no Brasil. O artigo traz uma reflexão crítica sobre como essa cultura atrapalha o desenvolvimento e o sucesso sustentável de empreendedores e organizações.
Felipe Vasconcelos | Gerente de Marketing
8/16/20252 min ler
Um dos traços mais perversos da cultura brasileira é o famoso jeitinho brasileiro. Ele consiste, basicamente, em uma maneira criativa e informal de resolver problemas ou situações complicadas, muitas vezes contornando regras ou procedimentos formais.
Essa conduta nociva favorece o descumprimento de leis e contratos, sempre na tentativa de obter vantagens a qualquer custo e em qualquer situação. Posso ilustrar com uma experiência própria: quando eu tinha um negócio de prestação de serviços de limpeza pesada, era obrigatória a presença de um responsável técnico para supervisionar a execução do serviço. Afinal, tratava-se de um trabalho que envolvia ácidos perigosos à saúde humana, como o ácido clorídrico. Por isso, incluímos em contrato a cláusula que exigia a retirada de pessoas e objetos do ambiente durante a execução.
Entretanto, por incrível que pareça, a maioria das pessoas não cumpria essa orientação. Pior: muitos sequer liam o contrato que haviam assinado, colocando em risco não apenas a segurança da equipe, mas também a própria integridade física.
Outra situação delicada que posso citar envolve, novamente, a tentativa de levar vantagem a qualquer custo. Certa vez, uma equipe que eu supervisionava executou um trabalho na casa de uma executiva de uma multinacional americana. Durante a fase de contratação, essa senhora se mostrou extremamente educada, mas, no decorrer do processo, sua postura mudou completamente.
O contrato previa que a contratante deveria inspecionar o serviço logo após a execução, para que eventuais correções fossem realizadas já no dia seguinte. No entanto, ela não fez a inspeção conforme combinado e, posteriormente, passou a agir de forma agressiva, chegando inclusive a usar palavrões.
Buscando uma solução, ofereci um estorno parcial de 50% do valor, já que o serviço havia sido aprovado em diversos pontos, ainda que com falhas pontuais. Todavia, ela exigiu o reembolso integral, ignorando a qualidade evidente em boa parte do trabalho. Mesmo após aceitar o estorno integral, a cliente ainda fez acusações falsas em nosso perfil no Google, o que nos obrigou a recorrer à Justiça. Felizmente, a decisão judicial reconheceu nosso direito, e ela acabou perdendo a causa.
Esses casos são apenas uma pequena amostra de como o jeitinho brasileiro — essa cultura nociva de tentar tirar vantagem em todas as situações — prejudica não apenas pessoas e empresas, mas também o próprio ambiente de negócios.
Quando todos tentam “bater a carteira de todo mundo”, buscando ganhos imediatos sem respeito a regras ou acordos, cria-se um cenário onde ninguém sai verdadeiramente vencedor. No fim das contas, todos perdem: o cliente, o fornecedor, o mercado e o país.
Em resumo, o jeitinho brasileiro pode até parecer uma saída esperta em situações pontuais, mas, na prática, ele destrói relações, compromete a confiança e enfraquece todo o ambiente de negócios. Empresas que desejam crescer de forma sólida precisam combater essa mentalidade com ética, profissionalismo e transparência.
No fim, o verdadeiro diferencial competitivo não está em levar vantagem sobre o outro, mas em construir relações de confiança que gerem valor para todas as partes envolvidas. Só assim será possível transformar o mercado brasileiro em um espaço mais justo, sustentável e, sobretudo, respeitado.